O Kula - O complexo sistema de trocas entre os trobriandeses do Pacífico Sul | Malinowski
por Juliano Marcel | Antropologia
A região da Nova Guiné, no Pacífico Sul, é de difícil
acesso, e as tribos que vivem no âmbito social do Kula pertencem ao mesmo grupo
racial, espalhados pelo arquipélago. A atenção do autor se destina aos chamados
papua-melanésios, que se distinguem em dois grupos, um ocidental – os
papua-melanésios –, e outro oriental – chamados de massim –, sendo que é acerca
este último que se processa o Kula. Malinowski relata sobre o Kula, sob a
perspectiva do distrito de Trobriand, entre os nativos Boyowa, e as trocas
realizadas entre os nativos de distritos arredores. Nestes grupos, a autoridade
está investida entre os mais velhos de cada aldeia, não havendo uma autoridade
geral. Os velhos representam a tribo de forma coletiva em qualquer
acontecimento, preservando as tradições tribais. São tribos de estrutura social
matrilinear, sendo que o indivíduo pertence à divisão totêmica e ao grupo
social da mãe, sendo do irmão dela que recebe a herança. A mulheres são
independentes e exercem papel de importância nas transações e festas tribais.
O Kula é uma forma de troca e tem caráter intertribal
amplo, praticados por diversas tribos no extremo oriental da Nova Guiné. Ao
longo da rota de cerimônia do Kula, dois únicos artigos se destacam: no sentido
horário, os longos colares feitos de conchas vermelhas chamadas de soulava; no
sentido oposto, os braceletes feitos de conchas brancas, chamadas de mwalli. É
a troca entre estes artigos que estabelece o Kula, onde são elaboradas
cerimônias públicas e rituais mágicos. Em cada aldeia, um número restrito de
homens participa do Kula, recebendo o artigo como troca (bracelete por concha,
e vice-versa), ficam com ele por um tempo, e, depois, passam adiante. A relação
não se limita à uma única troca, antes, é uma relação que se perpetua.
Malinowski cita a frase “uma vez no Kula, sempre no Kula”. Os artigos são
trocados com periodicidade, encontrando-se sempre em movimento, de mão em mão,
não ficando retido a apenas um indivíduo. Para além da troca dos artigos,
outras atividades são realizadas paralelamente à elas, sendo atividades de comércio
comum, negociando bens que não são produzidos em suas ilhas e indispensáveis à
sua economia. O Kula é uma atividade em rede complexa de troca, que vincula uma
diversidade de objetivos comuns às diversas tribos participantes numa
inter-relação, formando um grande organismo. Porém, o nativo participante do
Kula, não tem dimensão do todo que compõe o Kula. Seu olhar é subjetivo à sua
atuação e experiência pessoal, sem dimensionar a complexidade de atividades e
relações que a estrutura do Kula representa. O Kula representa um complexo
sistema de troca comercial, carregado de significados, deveres, privilégios,
que se estende às transações comerciais menores. Embora o Kula seja a permuta
de dois objetos simples que transitam de mão em mão, tornou-se o alicerce de
uma grande instituição intertribal associada a inúmeras outras atividades.
Referências Bibliográficas
MALINOWSKI,
Bronislaw. 1978 [1922]. “Introdução” (pp. 17-34) e “Capítulo 3 -
Características essenciais do Kula” (pp. 71-86). In Os Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural.
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Juliano Marcel é Graduado em Filosofia e Bacharelando em Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia e Ciência Política) pela UNICAMP.
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Juliano Marcel é Graduado em Filosofia e Bacharelando em Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia e Ciência Política) pela UNICAMP.