quinta-feira, 9 de julho de 2015

Introdução ao pensamento de Maquiavel

Nicolau Maquiavel nasce na Itália, em Florença, terceiro de quatro filhos, no dia 3 de maio de 1469. Experimenta um ambiente norteado de cultura. Seu pai era advogado e tinha uma vida controlada, podendo desta forma proporcionar o estudo e a formatação dos anseios pré-iniciais do menino Nicolau. Por volta dos sete anos, o latim e a matemática cerceiam o processo formativo do garoto prodígio. Um ano mais tarde, dá sequência a seus estudos na Escola Poppi (Igreja de São Benedito). O estudo do latim e seus autores tornam-se substanciais. Em 1595, acredita-se que é de Maquiavel (aos vinte e seis anos de idade) a transcrição do documento que defende uma visão matemática do mundo, oposta ao espiritualismo de Savonarola (padre reformador - governou Florença, pregando uma vida simples, recatada, distante dos abusos sociais), em voga naquele tempo.

Maquiavel, ao estudar a história das repúblicas mais proeminentes, constata que a sua força diminui com o tempo, seus costumes perdem força e capacidade de espelhar o espírito das leis, “pois como os bons costumes, para se manter, têm necessidade das leis, e as leis, por sua vez, têm necessidade, para serem observadas, dos bons costumes”. Ele constata que a constituição corrompe-se.

Perdeu-se hoje o sabor desse conceito. Fala-se da corrupção proporcionada pela burocracia, dos políticos, mas não sabemos mais o que quer dizer um povo corrompido. Tanto em Maquiavel quanto nos autores que o precederam, a corrupção marcava os limites do político. De um corpo político corrompido não se pode esperar mais nada, suas leis são incapazes de conter a violência privada, o Estado deixa de representar seus interesses legitimadores e os consorciados visam apenas o bem próprio, sem maiores preocupações com a coletividade que a cidade representa. Abre-se, desse modo, espaço para um regime autoritário, tirano.

O que Maquiavel descobre, portanto, não é a independência da ética e da política. Assim como Platão, ele é cético quanto à possibilidade de recuperar um povo que se corrompeu totalmente, mas não deixa de ver, partindo do exemplo das cidades italianas de seu tempo, que lá onde os valores não contam mais continua a existir uma sociedade política.

Maquiavel aponta para os limites da ética cristã, mostrando que ela é incapaz de guiar os homens na construção de uma república virtuosa. Ele nos leva a pensar que o aspecto mais nefasto da tirania é que ela exista como uma prolongação da vida política normal, demonstrando pelo silêncio, pelo medo ou pelo cinismo a incapacidade da ética em evitar a irrupção da barbárie.

Prof. Juliano Marcel

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