Introdução ao pensamento de Maquiavel II
O cardeal Giovanni de Medicis, em 1513, assume o papado como Leão X. Os Médicis, que por sua vez eram odiados pelos florentinos por terem derrubado a república, agora são aceitos e aclamados como os novos governantes.
Maquiavel apresenta e dedica, em 1515 sua obra O príncipe a Lorenzo II de Médici. É recebido com indiferença e continua desta forma, afastado da política vigente. Dedica-se significativamente à literatura e a outros contextos como reuniões de um cenáculo de escritores e poetas (em Florença). Em tempo, conclui sua obra Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio (1517). Em 1518 escreve: A mandrágora, Belfagor arcidiavolo (novela) e Discurso ou diálogo a respeito da nossa língua.
Com a morte de Lorenzo II de Médici, em 1519, Maquiavel retorna às atividades políticas. A pedido do papa, o cardeal Júlio de Médici, novo sucessor do cargo, solicita a Nicolau a tarefa de comentar a futura ordem de Florença. Escreve então o Discurso das coisas florentinas depois da morte do jovem Lorenzo de Médici.
O Tratado ‘Da arte da guerra’ começa a se tornar realidade, finalizando-o em 1520. Trabalhos diplomáticos e literatura fundamentam-se, delineando na mesma época, a pedido da universidade (Studio florentino), a obra Histórias florentinas, finalizada cinco anos mais tarde. A vida política não se formatava como algo sistemático. Maquiavel resolve se afastar da mesma e voltar seus esforços ao patamar literário, que crescia efetivamente. Em 1525 escreve uma segunda comédia denominada Clizia. Mesmo afastado da política, em 1525, é novamente restabelecido suas funções.
Dentre várias comissões diplomáticas, Maquiavel integra e coopera na criação de um conselho de defesa florentino. Toma parte das estratégias da campanha contra o império. Em 1527, Roma cai aos pés de Carlos V, suscitando uma rebelião em Florença, que se vê forte e derruba o governo dos Médicis, restabelecendo o regime republicano. O príncipe, obra conhecida não só pelos Médicis, mas pelo grupo de conflito estabelecido entre outros, elegem a antipatia e a frustração de se tornar um ser odiado por todos. O príncipe um documento destinado a ensinar aos ricos como tirar a liberdade dos pobres; os chorões (os seguidores de Savonarola) tinham Maquiavel como herético; os bons o consideravam um desonesto; os tristes o achavam mais triste ou mais valente do que eles; assim, todos o odiavam” (MAQUIAVEL apud CABRA, 1996, p. XXXII).
Pobre, doente, desgostoso e só, lembrado apenas por alguns poetas e literatos do cenáculo dos Orti Oricellari, vai a óbito em vinte e um de junho de 1527.
Atribuição de conceitos
Da realidade concreta, do agora, do que se vê, sensorialmente, e não como projeção futura ou histórica de um objetivo ou concepção, são fundamentações atribuídas e discutidas nos enlaces contextuais de Maquiavel – a verdade efetiva das coisas. “Esse caminho inverte o curso tradicional: enquanto ‘muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram vistos e que sequer sabemos se existiriam de verdade’ (Príncipe, XV), ele considera ‘mais conveniente ir diretamente à verdade física da coisa’ (Príncipe, XV). Maquiavel pensa, pois, que a ‘novidade’ de seu ensinamento está em ruptura com o afirmado pela tradição” (AMES, 2000, p. 251).
Nicolau pensa o Estado como capacitado a proporcionar e impor ordem. Outrossim, seu norte preconiza uma leitura concreta de um estado capaz de se tornar coeso e fundamentado na ótica perceptiva de vida, realidade, sensorial, em que os aspectos formativos reformulam sistematizações pautadas na execução, na análise da realidade presente, concreta, o hoje, e não que concepções históricas não são significativas.
Recomenda que se tomem como parâmetro as ações dos grandes homens, pois ainda que seja difícil ao imitador alcançar a mesma virtu do imitado, sempre haverá algum ganho: deve-se fazer como os arqueiros prudentes, que querendo atingir algum ponto muito distante, e conhecendo até onde vai a força do seu arco, miram mais alto do que o lugar visado, não para que sua flecha alcance tal altura, mas para poder, com a ajuda da mira elevada, atingir o ponto por eles imaginado” (RODRIGO, 1996, p. 18).
O caos e a estabilidade, fatores constituintes de uma realidade estatal em que se processam as indagações teóricas de Maquiavel. Politicamente pensando, Maquiavel assume a postura de abandono de argumentos tradicionais, histórico-secular, em que as concepções de natural e eterno são colocadas em justaposição ao que se percebe no concreto.
Construir a ordem, em um estado maquiavélico, formula a concepção de ordem enquanto produto essencial à política, não é algo que se materializa ou acontece à sorte, mas depende do trabalho e da formatação humana no intento de inibir a desordem, a crueldade e a selvageria. Há a necessidade de uma vigilância proposital, a fim de evitar os germes que sempre se pautam nessa questão.
“Maquiavel foi radical quanto à secularização e apontava a falência de velhos métodos como motivo para a busca dos novos, atenuando a perspectiva religiosa-militar e em face da perspectiva legal-estratégica” (JACARANDA, 2008, p. 50).
A política na visão de Maquiavel é o resultado de feixes de forças, proveniente das ações concretas dos homens em sociedade, ainda que de imediato reconhecíveis (WEFFORT, 2005, p. 18). A identificação motívica e efêmera do processo em si constituído, alavanca concepções que se fundamentam em novos fatos de difícil compreensão, re-signif icações que são justapostas além de si.
Há também que se formalizar a concepção de poder que por si só todos sentem, porém não conhecem. Fundamenta discursando sobre a instabilidade das coisas, mostrando que a vida privada é acometida de concepções e combinações diversas que se diferenciam da vida política. “...O mundo da política não leva ao céu, mas sua ausência é o pior dos infernos” (WEFFORT, 2005, p. 18).
REFERÊNCIAS
AMES, J. L. Maquiavel: a lógica da ação política. 2000. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
JACARANDÁ, R. F. Pelas razões do Estado: o maquiavelismo e os arcanos da estatalidade moderna. 2008. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
RODRIGO, L. M. O imaginário do poder e o poder do imaginário em Maquiavel. 1996. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
WEFFORT, F. C. Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, ‘O Federalista’. v. 1. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2005.
Maquiavel apresenta e dedica, em 1515 sua obra O príncipe a Lorenzo II de Médici. É recebido com indiferença e continua desta forma, afastado da política vigente. Dedica-se significativamente à literatura e a outros contextos como reuniões de um cenáculo de escritores e poetas (em Florença). Em tempo, conclui sua obra Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio (1517). Em 1518 escreve: A mandrágora, Belfagor arcidiavolo (novela) e Discurso ou diálogo a respeito da nossa língua.
Com a morte de Lorenzo II de Médici, em 1519, Maquiavel retorna às atividades políticas. A pedido do papa, o cardeal Júlio de Médici, novo sucessor do cargo, solicita a Nicolau a tarefa de comentar a futura ordem de Florença. Escreve então o Discurso das coisas florentinas depois da morte do jovem Lorenzo de Médici.
O Tratado ‘Da arte da guerra’ começa a se tornar realidade, finalizando-o em 1520. Trabalhos diplomáticos e literatura fundamentam-se, delineando na mesma época, a pedido da universidade (Studio florentino), a obra Histórias florentinas, finalizada cinco anos mais tarde. A vida política não se formatava como algo sistemático. Maquiavel resolve se afastar da mesma e voltar seus esforços ao patamar literário, que crescia efetivamente. Em 1525 escreve uma segunda comédia denominada Clizia. Mesmo afastado da política, em 1525, é novamente restabelecido suas funções.
Dentre várias comissões diplomáticas, Maquiavel integra e coopera na criação de um conselho de defesa florentino. Toma parte das estratégias da campanha contra o império. Em 1527, Roma cai aos pés de Carlos V, suscitando uma rebelião em Florença, que se vê forte e derruba o governo dos Médicis, restabelecendo o regime republicano. O príncipe, obra conhecida não só pelos Médicis, mas pelo grupo de conflito estabelecido entre outros, elegem a antipatia e a frustração de se tornar um ser odiado por todos. O príncipe um documento destinado a ensinar aos ricos como tirar a liberdade dos pobres; os chorões (os seguidores de Savonarola) tinham Maquiavel como herético; os bons o consideravam um desonesto; os tristes o achavam mais triste ou mais valente do que eles; assim, todos o odiavam” (MAQUIAVEL apud CABRA, 1996, p. XXXII).
Pobre, doente, desgostoso e só, lembrado apenas por alguns poetas e literatos do cenáculo dos Orti Oricellari, vai a óbito em vinte e um de junho de 1527.
Atribuição de conceitos
Da realidade concreta, do agora, do que se vê, sensorialmente, e não como projeção futura ou histórica de um objetivo ou concepção, são fundamentações atribuídas e discutidas nos enlaces contextuais de Maquiavel – a verdade efetiva das coisas. “Esse caminho inverte o curso tradicional: enquanto ‘muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram vistos e que sequer sabemos se existiriam de verdade’ (Príncipe, XV), ele considera ‘mais conveniente ir diretamente à verdade física da coisa’ (Príncipe, XV). Maquiavel pensa, pois, que a ‘novidade’ de seu ensinamento está em ruptura com o afirmado pela tradição” (AMES, 2000, p. 251).
Nicolau pensa o Estado como capacitado a proporcionar e impor ordem. Outrossim, seu norte preconiza uma leitura concreta de um estado capaz de se tornar coeso e fundamentado na ótica perceptiva de vida, realidade, sensorial, em que os aspectos formativos reformulam sistematizações pautadas na execução, na análise da realidade presente, concreta, o hoje, e não que concepções históricas não são significativas.
Recomenda que se tomem como parâmetro as ações dos grandes homens, pois ainda que seja difícil ao imitador alcançar a mesma virtu do imitado, sempre haverá algum ganho: deve-se fazer como os arqueiros prudentes, que querendo atingir algum ponto muito distante, e conhecendo até onde vai a força do seu arco, miram mais alto do que o lugar visado, não para que sua flecha alcance tal altura, mas para poder, com a ajuda da mira elevada, atingir o ponto por eles imaginado” (RODRIGO, 1996, p. 18).
O caos e a estabilidade, fatores constituintes de uma realidade estatal em que se processam as indagações teóricas de Maquiavel. Politicamente pensando, Maquiavel assume a postura de abandono de argumentos tradicionais, histórico-secular, em que as concepções de natural e eterno são colocadas em justaposição ao que se percebe no concreto.
Construir a ordem, em um estado maquiavélico, formula a concepção de ordem enquanto produto essencial à política, não é algo que se materializa ou acontece à sorte, mas depende do trabalho e da formatação humana no intento de inibir a desordem, a crueldade e a selvageria. Há a necessidade de uma vigilância proposital, a fim de evitar os germes que sempre se pautam nessa questão.
“Maquiavel foi radical quanto à secularização e apontava a falência de velhos métodos como motivo para a busca dos novos, atenuando a perspectiva religiosa-militar e em face da perspectiva legal-estratégica” (JACARANDA, 2008, p. 50).
A política na visão de Maquiavel é o resultado de feixes de forças, proveniente das ações concretas dos homens em sociedade, ainda que de imediato reconhecíveis (WEFFORT, 2005, p. 18). A identificação motívica e efêmera do processo em si constituído, alavanca concepções que se fundamentam em novos fatos de difícil compreensão, re-signif icações que são justapostas além de si.
Há também que se formalizar a concepção de poder que por si só todos sentem, porém não conhecem. Fundamenta discursando sobre a instabilidade das coisas, mostrando que a vida privada é acometida de concepções e combinações diversas que se diferenciam da vida política. “...O mundo da política não leva ao céu, mas sua ausência é o pior dos infernos” (WEFFORT, 2005, p. 18).
REFERÊNCIAS
AMES, J. L. Maquiavel: a lógica da ação política. 2000. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
JACARANDÁ, R. F. Pelas razões do Estado: o maquiavelismo e os arcanos da estatalidade moderna. 2008. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de Maria Júlia Goldwasser. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
RODRIGO, L. M. O imaginário do poder e o poder do imaginário em Maquiavel. 1996. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
WEFFORT, F. C. Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, ‘O Federalista’. v. 1. 13. ed. São Paulo: Editora Ática, 2005.
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